Antes de ser mãe eu nunca tinha gasto muitos neurônios com o assunto 'cama compartilhada', até porque achava que já tinha uma opinião formada, definitivamente.
Pois é, tinha...
Acontece que quando eu era pequena detestava dormir com meus pais. Lembro de sentir a maior agonia quando precisava fazer isso por um ou outro motivo, não sei explicar a razão, só sei que não gostava. Lembro também de algumas vezes ter dormido com meus avós e a sensação de desagrado ficou muito viva na memória. E olha que eu amava ficar na casa deles mais que tudo na vida quando era pequena.
O fato é que eu nunca gostei de dormir junto com ninguém (coincidência ou não, com o maridão eu adorei dividir o travesseiro desde a primeira vez que isso aconteceu, mas foi SÓ com ele).
O tempo passou e quando a Alice nasceu eu tinha aquela noção a partir das minhas sensações da infância, reforçadas por aquele velho papinho que diz que "criança que dorme com os pais fica mal acostumada" e por aí vai. Tinha uma resistência fortíssima à ideia de colocar sequer o berço em nosso quarto, tanto que fiz questão de colocar uma cama no quarto dela para que eu pudesse ficar lá o tempo necessário - leia-se: até que ela dormisse sozinha.
Sentia receio, confesso. Receio de quê? Nem eu sei ao certo...mas achava que ela não ia querer nunca ir para o berço e depois para a sua própria cama. Além disso - atire a primeira fralda suja quem nunca sentiu - aquele medinho meio lenda urbana de sufocar o bebê durante o sono me incomodava outro tanto.
E então a Alice nasceu...e eu pensei que ia adoecer de cansaço e privação de sono. Nunca pensei que ficar sem dormir doesse, juro! E olha que eu estava bem acostumada a dormir pouco (antes de engravidar, é vero...) mas nada, eu disse NADA que eu tinha vivido até então se comparou à loucura daquele primeiro mês quando me vi totalmente sozinha com uma recém nascida num inverno medonho em plena histeria coletiva por causa da tal gripe H1N1 (o maridão voltou a trabalhar na sua rotina de horários imprevisíveis três dias depois de chegarmos do hospital de modo que era eu, a Alice e os gatos apenas... ). Só para contextualizar, eu cheguei num limite de exaustão e stress que nunca pensei que chegaria na vida. Tudo isso arrematado com o problema que tivemos na amamentação x falta de orientação do primeiro pediatra (que contei aqui, aqui e aqui), além do trauma do parto em si (mas isso é ouuuuutra história, juro que assim que me sentir pronta vocês serão as primeiras pessoas a lerem o relato).
Cheguei num ponto de chorar de cansaço, estava quase(?!!?) entrando em desespero, juro. Eis que um belo dia o maridão dá a brilhante sugestão: "Por que não encostamos a nossa cama na parede e colocamos ela para dormir conosco?"
Naquela altura, a Alice tinha um mês e meio de vida e o que eu mais queria era descansar meu corpo mais moido que pimenta em restaurante mexicano no nosso belo colchão queen-size, mesmo que fosse por uma hora ou duas. Enfim, topei na hora (mas cheia de receios, confesso).
E querem saber?
Foi a melhor coisa que fiz! Devia ter feito desde a primeira noite em casa. Naquela noite, pela primeira vez desde que tinha ido para o hospital ganhar a Alice, eu consegui dormir e acordar me sentindo menos pior melhor. Até ela dormiu visivelmente melhor (comprovado por fotos tiradas alheias à minha vontade - e nem adianta porque não irei publicar, never, hehehe).E para a amamentação foi super importante, acho que se não tivesse feito isso talvez não conseguisse manter a Alice mamando. Na época ela acordava em média a cada 2 horas para mamar.
Óbvio que fizemos algumas várias adaptações para que tudo funcionasse direitinho. Coloquei uma espécie de protetor na parede feito com material emborrachado (folhas de E.V.A beeem fixadas, claro) para funcionar como protetor de berço, saca? Também usei uma almofada daquelas inclinadinhas (anti-refluxo) que deixava ela na mesma altura do meu travesseiro (que é bem alto). E, principalmente, nunca cobria a bebê com as nossas cobertas, ela tinha um saquinho de dormir só dela.
Claro que deve ter sido infinitamente mais fácil para muitas outras pessoas (que certamente nem precisaram de tudo isso que eu precisei) mas vale lembrar sempre que estou falando baseada nas minhas experiências, sem a menor pretensão de ganhar o prêmio da verdade absoluta, né? (rsrsrs)
E assim fomos até ela estar com uns cinco meses.
Tudo ia muito bem, mas o bebezinho começou a crescer...e a se remexer na cama. E o pai desse bebezinho é uma pessoa bem grande...e digamos que pai e filha possuem muitas semelhanças... Além do nariz, que é idêntico, eles dormem iguaizinhos, se remexendo muito. Já eu sou daquelas que deita e acorda na mesma posição (seguidamente com alguma parte do corpo assim, meio formigando). Estava ficando desconfortável o nosso aranjo então comecei a pensar em passar a Alice para a caminha dela, coisa que já fazia nas sonecas diurnas. Depois de um feriadão que passamos na casa da minha sogra (lá a nossa cama é menor e tem um bercinho ao lado) chegamos em casa e segui no mesmo esquema. Coloquei a Alice para dormir na sua caminha e fiquei dormindo no quarto dela para que ela se sentisse segura (e eu também, ora!). Uma semana depois com tudo indo super bem resolvi ir para o meu quarto (que é colado no dela, literalmente a três passos) e desde então seguimos muito bem assim.
E a cama compartilhada? Vai muito bem, obrigada. Depois da nossa experiência tive mais certeza que é bobagem nos apegarmos em ideias pré-concebidas e preconceitos. A Alice dorme na cama dela sim, mas dorme conosco também.
Como assim?
Quando ela ficava amoladinha (dente nascendo ou qq outra coisa), carente, resfriada ou algo que a deixasse fora do normal, dormíamos juntas num colchão no chão do quartinho dela (pois é, desmontei a 'cama auxiliar' e a Alice ganhou um quarto com mais espaço, sem aquele trambolho inútil). Mas isso foi umas três vezes porque agora, contrariando recomendações inclusive da pediatra dela (que eu adoro de paixão) ela vem para a nossa cama, e dorme no meinho. Geralmente rola para o lado do pai e fica colada nele a noite toda, coisa mais querida. Mas não temos uma regra para que isso aconteça, simplesmente deixamos rolar. A coisa toda foi acontecendo naturalmente e encontramos uma maneira que fica boa para nossa família, enfim...não existem fórmulas.
A única coisa que é sagrada, se tornou praticamente um ritual e mesmo assim, foi rolando espontaneamente, é que todos os dias quando ela acorda (entre 6:00 e 7:00hs) o pai busca ela no berço para ficar em nossa cama. Ela mama e depois continuamos um soninho até a hora dele levantar. A melhor coisa do mundo é quando chega fim de semana, porque aí não temos hora para sair da cama...coisa boa!
Hoje tenho plena certeza que amo ficar na cama com meus amores, sem crise, sem atucanação com manuais que dizem 'faça assim ou faça assado', sem conselhos bobos martelando na cabeça e no meu caso, principalmente, sem me prender às minhas próprias vivências infantis.
Para quem nunca experimentou, recomendo! Cada família acaba encontrando um arranjo que funcione, o importante é viver essa troca de carinho porque os filhos crescem rápido demais, o tempo passa correndo na nossa frente sem dar a mínima se aproveitamos o que ele nos trouxe ou não...
E tenho certeza que ninguém fica viciado/mal acostumado/dependente ou seja lá o que for só por dormir aconchegadinho(a) em quem ama, né?
E pensando bem, quantas pessoas adultas você conhece que ainda dormem com os pais? (rsrsrsrsrs).
*imagem: Getty Images