Hoje me peguei pensando num dos conselhos mais legais que ouvi logo que a Alice nasceu. E não me surpreende em nada que ele tenha vindo justamente da minha avó, mulher que está longe de ser o modelo convencional de donda de casa, mas é sim um ser humano fantástico. Uma mulher cheia de qualidades e defeitos, humana e real. Sem essa de vovozinha de histórinhas infantis...minhas duas avós nunca se encaixaram bem nesse perfil. Mas uma delas partiu para o seu vôo solo definitivo, curiosamente menos de um mês antes de eu engravidar...um de nós foi e um de nós veio. O nome dela era Joana e não conheceu a Alice, que pena. Teriam se dado bem, tenho certeza...
Volta e meia penso nela e sinto uma saudade boa; é...os avós deveriam ser eternos.
Mas a bisa Helena conheceu, e conhece bem a Alice. Disse inclusive que ela era a minha cara quando nasceu (isso foi SÓ quando nasceu porque depois ela foi mudando e ficando a cara do pai).
E foi na primeira vez que ela segurou a primeira bisneta no colo que me disse uma das coisas mais bonitas que já ouvi.
Eu estava atordoada, exausta, sentindo muita dor e tremendamente estressada por causa das intercorrências traumáticas que me aconteceram por causa da anestesia...o quarto cheio de visitas (minhas e da moça que estava na outra cama) e eu só queria tentar achar um eixo, o meu eixo dentro daquele universo totalmente novo que de uma hora para outra eu fui arremessada.
Aí a minha avó pega a Alice no colo, olha para mim e relembrando quando minha tia nasceu me diz:
" - Quando a tua tia nasceu ela era tão mirradinha que parecia prematura, por pouco não cabia numa caixa de sapato..." (a gravidez tinha sido bem complicada e minha tia nasceu bem debilitada, se fosse hoje certamente teria ido parar numa UTI neonatal mas há mais de cinquenta anos acho que isso nem existia).
Eu já conhecia essa história de cor e salteado mas de repente ela contou um detalhe que eu desconhecia e foi algo que fazia um incrível e oportuno sentido naquele momento da minha vida:
" - As enfermeiras vinham no quarto e me falavam para colocar ela no seio só a cada duas horas, e que não tinha importância se ela chorasse...que tinha que acostumar e era assim mesmo. Mas eu não dei ouvidos. Quando ela chorava eu ia lá e botava ela para mamar, ficava com ela no colo. quase todo o tempo. Em seguida ela começou a ganhar peso e quando voltei no hospital para ver o médico umas semanas depois ninguém acreditava que era o mesmo bebê, ela já tinha até dobrinhas..."
E isso foi há mais de cinquenta anos.
Há mais de cinquenta anos deram para minha avó um conselho que eu também ignorei (ter horário rígido para mamar e deixar chorar - e o pior que ainda hoje há quem defenda isso). E há mais de cinquenta anos atrás minha vó ouviu a voz do seu próprio coração e fez o que sentia ser melhor e acertou. A criança debilitada que por pouco não ficou no hospital se recuperou rápido, com saúde porque a mãe dela ousou ir contra as (estúpidas) 'regras' que existiam ou que queriam que ela acreditasse que existiam.
E sem se dar conta, minha avó foi a primeira pessoa que me incentivou na amamentação em livre demanda, e cada vez que lembro disso fico com lágrimas nos olhos de admiração e gratidão.
Para ela pode ter sido só mais uma lembrança da juventude que ela dividiu, mas para mim foi uma lição de vida, um incentivo, um exemplo prá lá de positivo.
As pessoas hoje em dia se tornaram tão fechadas em torno de si e das coisas que buscam freneticamente obter que acabaram perdendo grande parte da beleza da troca de experiências entre as gerações. Que pena!
E podem passar mais cinquenta anos que vou sempre lembrar do melhor conselho que ouvi na minha estréia nesse mundo maluco que é a maternidade...e podem ter certeza que assim como a minha avó eu vou passá-lo adiante.
Ps: E SIM, sou completamente favorável à amamentação e colo em livre demanda!!!!
*foto: arquivo pessoal